Jovem com paralisia cerebral se forma em Rádio e TV em universidade da região

Jovem com paralisia cerebral se forma em Rádio e TV em universidade da região

 “Se ele sobreviver, ele terá apenas vida vegetativa”. Essa foi a dura frase ouvida por Isabel Cristina da Costa e Maurício Rodrigues Peinado logo após o nascimento do filho, Juliano Augusto da Costa Rodrigues Peinado.

 

Aos 22 anos, ele superou todas as expectativas e, na última terça-feira (5), participou da colação de grau do curso Rádio, TV e Internet, curso no qual receberá seu primeiro diploma de graduação pelo Centro Universitário de Campo Limpo Paulista (Unifaccamp).

Além disso, o jovem guerreiro, como é conhecido, é paraatleta de bocha pelo SESI de Jundiaí, namora e agora está procurando uma oportunidade de emprego para poder construir sua própria família.

Juliano e sua namorada

Juliano e sua namorada Samara Andressa Del Monte

A maioria dificuldade de Juliano é com a parte motora, problema que foi diagnosticado aos cinco meses com a ajuda de uma ressonância magnética que apontou as regiões que foram afetadas no cérebro.

A mãe conta que, quando criança, ele brincava com os pés, já que eles foram menos comprometidos.

Depois de várias tentativas de ferramentas para que ele conseguisse se comunicar, a família chegou no resultado que se adaptou perfeitamente: um programa de computador que transforma o joystick do videogame em mouse.

Atualmente, Juliano usa um mouse trackerball fixado no apoio de pés da cadeira de rodas e, através de um teclado virtual, ele se comunica.

Vencedor desde o nascimento

Ao Tribuna de Jundiaí, Isabel contou que Juliano teve "anoxia" no parto, ou seja, falta de oxigênio no cérebro. Logo na maternidade, ouviu o diagnostico chocante dos médicos.

“Numa madrugada eu acordei com ele me olhando como se dissesse: ‘Oi, vamos brincar?’. Então soubemos que nosso filho estava vivíssimo e que ficaria conosco”, relata a mãe.

Desde o nascimento, Juliano passou por diversos processos de terapias: fonoterapia, fisioterapia, terapia ocupacional, hidroterapia e, posteriormente, equoterapia.

Educação e esforço

A mãe, que é professora, conta que Juliano sempre foi cobrado dentro de casa para se esforçar quando o assunto eram os estudos.

“Não aceitávamos a postura de “coitadinho”, mas ajudávamos a conhecer seus deveres e os direitos e cumpri-los, lutar por eles. Limites e afeto: esta foi a tônica da educação do Juliano”, conta.

Juliano foi para a escola aos três anos de idade, em uma creche pública de São Bernardo do Campo, local que a família morava. Aos quatro anos, foi chamado para estudar na escola da AACD, na Cila Clementino, mas ficou apenas um semestre, retornando para São Bernardo em uma escola pública de Educação Infantil.

Aos cinco anos foi para outra escola pública mais perto de casa. “Ele evoluiu muito nesse período: acompanhava a aprendizagem, adorava os colegas e até arrumava namoradas. Como ele não apresenta fala convencional, utilizava uma prancha de comunicação alternativa com símbolos, que as pessoas apontavam e, quando chegava no que ele queria, balançava a cabeça afirmativamente”, explica Isabel.

A família e a escola também mantinham um caderno que serviam de comunicação entre eles. Lá, era anotado o que ele pedia, referente aos assuntos das rodas de conversas da escola e a escola também relatava os acontecimentos diários.

Aos 7 anos, chegou o momento de ir para o Ensino Fundamental e foi aí que as dificuldades começaram: as escolas próximas davam desculpas para não aceitá-lo. Elas alegavam falta de estrutura por conta das adaptações arquitetônicas.

Isabel decidiu levá-lo para estudar na escola que trabalha na época. “Era num bairro mais distante, mas por ser de periferia, a comunidade era muito inclusiva”, diz.

Ele foi alfabetizado e sua dificuldade de comunicação diminuiu muito, pois bastava as pessoas apontarem ou soletrarem para montar as palavras e frases que ele queria dizer.

A família se mudou para Itatiba e ele foi estudar no Anglo, que o acolheu de braços abertos. Lá, ele se desenvolveu bastante até o final do ensino médio.

Ensino Superior

“Tínhamos dúvidas se ele entraria na faculdade, pois não havia cotas para pessoas com deficiência que estudavam em escola particular e o Ju não era dos alunos mais estudiosos”, conta a mãe.

Juliano prestou o primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) como treineiro e, para escrever sua redação, adaptaram um pneu que tinha na escola com as letras do alfabeto. Assim, ele podia apontar as letras com os pés. Dessa forma, ele escreveu sua redação. Já no segundo ENEM, ele pôde fazer uso do computador.

O jovem estudante prestou vestibular em várias faculdades para o curso de Jogos Digitais. Passou em várias e foi estudar no SENAC. Ficou um ano, mas não se identificou com o curso e resolveu prestar outro vestibular para Rádio, TV e Internet.

“O Juliano é filho de professora, então foi bastante exigido, porque tinha que ser exemplo. Sofreu muito por isso, mas o fato de sermos muito firmes fez com que ele tivesse que se esforçar. Por ocasião da faculdade, ele teve toda a autonomia para escolher e depois trocar de curso”, explica a mãe.

Ela conta que existia um receio por parte da família em cada instituição que ele entrava. Porém, eles sempre estiveram em contato com as escolas para mostrar os limites, as possibilidades e propor um trabalho em total parceria: escola-família-terapeutas.

“Nem sempre foi fácil, um pouco pelo medo e desconhecimento de algumas pessoas, mas a maioria sempre se mostrou aberta ao acolhimento dele e a realizar as adaptações necessárias. Na faculdade, foi da mesma maneira e as duas universidades onde ele estudou, Senac e Unifaccamp, se mostraram inclusivas”, diz.

Enfim, formado!

“Imagine uma família que recebeu um diagnóstico no nascimento do filho de que se ele sobrevivesse, ficaria apenas ligado a aparelhos, vegetando. Então você percebe que por trás de toda a deficiência que te mostravam tinha um ser humano incrível, batalhador, amoroso, divertidíssimo e, acima de tudo, apaixonado pela vida”, conta a mãe quando questionada sobre o que sentiu ao ver o filho participar da colação de grau.

Ela conta que toda a família ficou profundamente emocionada pela lição de vida que o Juliano deu, vencendo tantos obstáculos de maneira bem-humorada.

Família de juliano em colação de grau

Família de Juliano reunida para prestigiar um dos momentos mais importante da sua vida

“Passou um filme em nossa cabeça de todo o seu percurso escolar, de todas as dificuldades, mas também de todos os profissionais e colegas que o acolheram, ajudaram e o incentivaram a seguir em frente”, finaliza.

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