Jardineiro de 65 anos encontrou nos estudos a 'razão de sua existência'

Jardineiro de 65 anos encontrou nos estudos a 'razão de sua existência'

Luíz Jacinto Romero, de 65 anos, veio do Paraná na década de 70 e, hoje, mora em Várzea Paulista. Apesar de ter contato com a família e diversos amigos, seu Luíz sentia que algo faltava. Após um longo caminho percorrido, o jardineiro descobriu como se realizar pessoalmente: voltar a estudar.

Ele teve que largar os estudos cedo, então não concluiu o Ensino Fundamental. Hoje, o jardineiro autônomo está no 2º segmento do Ensino Fundamental II (com disciplinas do 6º ao 9º ano) e não quer mais parar de estudar. Ele só não vai à aula quando não dá tempo, por conta do trabalho, muitas vezes feito em outras cidades.

Trajetória

Seu Luíz começou a estudar aos 12 anos, em Boa Esperança, no Paraná. Ele dividia seu dia entre estudo e trabalho, já que ajudava seu pai, que era agricultor. Ele cursou até o terceiro ano do Ensino Fundamental e aprendeu a ler e escrever.

Para se dedicar ao trabalho no campo, Luíz precisou interromper os estudos. "No meu pensamento, achava que já sabia tudo e não precisava estudar", relembra.

Aos 23 anos, ele resolveu vir para São Paulo. Trabalhou por três meses na capital, e depois mudou-se para a região de Jundiaí, se adaptando melhor em Várzea Paulista. "Eu me senti bem em Várzea Paulista, cidade das orquídeas", conta, sorridente.

Após trabalhar em empresas da região e conquistar sua casa própria, Luíz ainda sentia que algo faltava. "Meus amigos me diziam: o negócio é se divertir. Comecei a ir na igreja e outros lugares, mas o vazio continuava", relata.

Preenchendo o vazio

Há poucos anos, Romero começou a trabalhar na antiga metalúrgica Dal Santos, de Jundiaí e uma namorada lhe deu uma dica que mudaria minha sua vida no futuro. "Ela me disse que esse vazio poderia ser resolvido com amor à vida, amor a mim mesmo e me indicou uma terapia para a mente, com o padre Genival, da Paróquia São Roque: a oração de amortização".

No trabalho para compreender a si mesmo, o varzino caiu na realidade: "Eu trabalhava na empresa e via meus companheiros sendo promovidos e finalmente percebi: está me faltando escolaridade, conhecimento. Na amortização, eu falei em frente ao espelho: me falta um amigo e percebi que ele era, na realidade, o aprendizado, a escola", explica.

Pouco depois, na década de 2000, uma amiga disse a Luíz que daria aulas para adultos no Jardim Buriti, onde ele mora. O munícipe se interessou, mas, após três meses, por questões administrativas da Prefeitura, as aulas tiveram de ser interrompidas.

Mesmo assim, a curta experiência lhe deu a certeza de que esse era o caminho para preencher o vazio de sua vida. "Pensei: é disso que preciso para ser cidadão".

Com facilidade para tecer poemas, o esforçado trabalhador tinha nisso mais uma motivação para estudar: "Eu me considero um poeta e um poeta precisa ter boa leitura, saber conversar e se comunicar".

Após algum tempo, ficou sabendo que a EJA (Educação de Jovens e Adultos), modalidade ofertada pela Prefeitura para alunos concluírem o Ensino Fundamental, estava disponível no Cemeb (Centro Municipal de Educação Básica) Prefeito João Aprillanti, na Vial Santa Terezinha.

O dia em que fez sua matrícula, em 2015, ficou marcado, a ponto de ele fazer um poema para a diretora que o incentivou naquele momento.

"Ela me falou: vem que você aprende. No poema, homenageio a figura dessa 'sereia' que me convidou a entrar nesse mar de conhecimento", relata.

Após fazer a matrícula, Romero passou a trabalhar com a professora Marineusa Neto. A professora é a favorita dele até hoje, pela simpatia e dedicação. "Estudei com ela por três anos e fiquei tão feliz! Fiz um poema, que também canto na forma de repente: 'Um Dia a Gente Nasceu'.

Luíz faz questão de reconhecer o trabalho feito pelos docentes, um dos quais inclusive tem bastante paciência para lhe ensinar matemática. "Quando voltamos a estudar, voltamos com tudo. Meio que voltamos a ser crianças", brinca.

Segundo o aluno, é importante incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo que ele. "Que a gente não guarde isso só para a gente, mas incentive outras pessoas a buscarem essas aulas", diz.

Como todo bom poeta, Luíz ainda tem muitos sonhos. "Sonho ser poeta e psicólogo. Mesmo que não dê tempo de eu me formar, vou ocupar minha mente sempre com coisas boas", conta.

Com duas filhas e quatro netos, Luíz comemora tudo o que tem e celebra porque, agora, também conta com a busca pelo conhecimento. "Sou o cara mais feliz do mundo. O único vazio que eu tinha hoje está preenchido", afirma com alegria.

 Com informações fornecidas pela Assessoria da Prefeitura de Várzea Paulista.

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