Com paralisia cerebral, jovem vence obstáculos e se forma em Letras

Com paralisia cerebral, jovem vence obstáculos e se forma em Letras

Débora Bertolo Moreira, de 23 anos, mora no Bairro Nova Trieste, em Jarinu (SP), e teve cinco paradas respiratórios ao nascer. Após o quadro, recebeu o diagnóstico de paralisia cerebral. Mas, isso nunca impediu que a jovem seguisse seus sonhos.

No dia 5 de fevereiro, Débora participou da colação de grau do curso de Letras da Unifaccamp (Centro Universitário de Campo Limpo Paulista), no Clube São João. “Foi uma emoção, uma vitória muito grande na minha vida. É algo inexplicável”, contou emocionada.

De acordo com uma de suas professoras, Jaqueline Massagardi Mendes, Débora sempre foi uma aluna participativa e dedicada. “A Débora é minha ‘musinha do Olímpio’. Ela tem uma doçura capaz de alterar o mais amargo dos sabores”, diz a professora.

O diagnóstico de Débora veio logo após o parto, quando sua mãe teve eclampsia, fato que ocasionou a falta de oxigenação no cérebro. Por conta do problema, ela teve sequelas motoras e, hoje, utiliza bengala para se locomover. Em contrapartida, a parte cognitiva do cérebro não foi afetada.

O sonho de ensinar

Débora conta que sempre gostou da área da educação e língua inglesa, mas antes de começar a fazer Letras, ela começou a cursar Pedagogia e, como não se identificou, acabou trancando o curso.

Logo depois, com a ajuda da madrasta e toda sua família, ela recebeu todo incentivo necessário para fazer algo que ela se identificava: Letras. “Sempre gostei de inglês e de ensinar, desde pequena”, conta. “Minha madrasta foi quem mais me motivou”, completa Débora.

debora e sua familia na colação de grauDébora no dia da colação de grau com a sua família. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Dificuldades, vida acadêmica e amizade verdadeira

Ao Tribuna de Jundiaí, a jovem contou que nunca teve dificuldades em relação ao curso, pois sempre aprendeu com facilidade. A única dificuldade que enfrentou foi a locomoção de um local para outro. “Consigo me virar bem, mas tive ajuda de uma amiga”, ressalta.

A amiga é Thays Marques, moradora do mesmo bairro de Débora. A amizade entre as duas começou logo no primeiro dia aula, quando a professora perguntou de qual cidade cada aluno era. Thays conta que na hora do intervalo procurou por Débora.

Ela explicou para Thays toda a situação e como ela fazia para chegar até a universidade. No caso, o pai de Débora a levava e ficava esperando por ela até o final das aulas. “Fiquei pensando o quão era cansativo para o pai dela durante três anos levar esta rotina. Foi então que, fui até a casa dela e pedi para que ela fosse com a van. Falei que ajudaria a colocá-la e desce-la da van”, recorda Thays.

debora e thays em seus passeiosDébora e sua amiga Thays que conheceu na faculdade. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Com a amizade crescendo e a parceria para fazer os trabalhos, o professores brincavam, chamando a dupla de "o grupo da Thays e da Débora". “Era como um nome composto, sempre juntas, na sala, nos lugares da faculdade, absolutamente tudo que nós fazíamos era juntas”, afirma Thays.

“Eu venci”

Débora entrou na colação de grau com a sua amiga Thays e foi aplaudida de pé pelos colegas da turma. Ela contou que durante a cerimônia, um filme dos três anos de curso passou em sua mente, lembrando cada batalha vencida. “Tive a sensação de dever cumprido, venci três anos de uma luta muito grande”, conta Débora.

“Naquele momento que nós subimos no palco para recebermos o diploma, foi uma lembrança de todos os trabalhos, todos os dias que nós corremos na chuva para chegar na sala de aula ou na van, dos passeios que fizemos, da primeira vez que ela andou de ônibus comigo, uma passagem de tudo que marcou a nossa amizade”, lembra a amiga Thays.

debora com a sua turmaDébora com seus colegas de classe no dia da colação de grau. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

E ela não pretende parar por aí! Esta foi apenas uma das muitas conquistas que estão por vir. Os planos de Débora são de continuar estudando, fazer pós, mestrado e doutorado em língua inglesa.

“Pretendo continuar tendo sucesso na carreira profissional, correr atrás dos meus sonhos e acreditar que sempre vou conseguir de cabeça erguida”, finaliza Débora.

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