Pingue-pongue de domingo: Milton Leite, o narrador dos jargões, torcedor do Paulista de Jundiaí

Pingue-pongue de domingo: Milton Leite, o narrador dos jargões, torcedor do Paulista de Jundiaí

“Que beleza”: foi assim, ao som de um dos seus jargões mais conhecidos, que o jornalista e narrador esportivo, Milton Leite, foi recebido pelos alunos do Centro Universitário de Campo Limpo Paulista (UniFaccamp) na última semana.


Ele, que já soma quase 40 anos de carreira, participou da semana de cursos realizada pelo centro universitário e conversou com alunos sobre diversos assuntos: vida profissional, futebol, vida acadêmica e até confessou uma paixão: o time do coração de Milton Leite é o Paulista de Jundiaí.

No currículo, Milton soma cinco coberturas de Copa do Mundo e a narração de momentos históricos como a vitória de Usain Bolt em Londres e a medalha de ouro do nadador César Cielo nas Olimpíadas de Pequim.

Em entrevista exclusiva para o Tribuna de Jundiaí, Milton leite contou sobre sua trajetória profissional e história com Jundiaí e falou, ainda, sua sincera opinião sobre o atual momento político do Brasil. Leia a entrevista na íntegra:

Tribuna de Jundiaí - Qual é a sua trajetória profissional e sua relação pessoal com Jundiaí?

Milton Leite - Eu comecei carreira em Jundiaí em 1978 como jornalista do Jornal de Jundiaí. Passei também pelo Jornal da Cidade, Rádio Difusora, Rádio Cidade. Trabalhei em todas elas. Foram quase 10 anos em Jundiaí. A minha ligação com a cidade continua muito forte. Embora eu more em São Paulo já faz muitos anos, meus pais moram em Jundiaí, das minhas três filhas, duas moram em Jundiaí. Elas são jundiaienses e tenho um neto que também nasceu em Jundiaí. Então, estou toda semana por aqui. Todo fim de semana eu venho para cá para ver meu pessoal.

TJ - Como foi a sua mudança profissional de sair do interior para a cidade grande?

ML - Eu nasci em São Paulo e morei lá até os 12 anos de idade. Vim para o interior, comecei carreira aqui e depois voltei a morar em São Paulo. Na verdade, a mudança de trabalho, que foi quando eu deixei as rádios e o jornalismo de Jundiaí para trabalhar em rádio e jornal de São Paulo, é realmente um outro mundo. Aqui as redações são pequenas, você faz um pouco de tudo, encontra dificuldade para fazer quase tudo porque não tem tanto recurso. Quando você vai para uma rádio grande, um jornal grande, a estrutura é muito maior, a repercussão do que você faz é muito maior, porque muito mais gente lê o jornal ou ouve aquela rádio. Então, se você não tiver um pouco de cabeça e estrutura, você acaba fazendo bobagem e acaba se perdendo um pouco no “gigantismo” desses veículos. Mas, como eu já tinha quase 10 anos de carreira aqui em Jundiaí, conhecia muita gente que trabalhava em São Paulo e isso tudo foi me ajudando a entender bem esse mercado.

TJ - Como é para você conversar com os estudantes da área de comunicação? Qual é a dica que você dá para quem está começando ou quer começar nesta área?

ML - Nós estamos vivendo um momento muito difícil no mercado. Muitas vagas sendo fechadas. Eu gosto muito de ter contato com estudantes e tenho com muita frequência. Muitos me procuram e querem saber mais sobre a área. Acho que a primeira dificuldade é entender esse mercado todo, pois muitas coisas estão mudando. Talvez a televisão, que seria um grande mercado, está deixando de ser. A internet está muito forte com esses ‘produtores de conteúdo’ tipo Google e Facebook, que estão tomando conta de uma parte importante do mercado. Acho que se tem alguma dica que eu possa dar é: leia muito, estude muito, se prepare para toda e qualquer oportunidade e perceba que essa mudança está acontecendo. Hoje, nós temos uma realidade de mercado que é muito diferente da época que eu comecei, em que era, basicamente, jornal e rádio, e algumas poucas chances de ir para a televisão. Hoje, temos internet, redes sociais, conteúdos diversos. Enfim, o mercado expandiu, embora haja uma crise de vagas, as opções são muito grandes.

TJ - Sobre a transformação da imprensa com a chegada das mídias sociais. O que você acha?

ML - Hoje, praticamente, todo mundo virou um pouco jornalista com seu Facebook, Twitter, Instagram. Acho que estamos vivendo um momento de muita transformação neste nosso mercado. Não só dessas mídias sociais, mas da própria internet. Os veículos estão se transformando em produtores de conteúdo, que antes não eram. O próprio Facebook, o Google, são veículos de internet que estão se transformando em produtores de conteúdo. Com essa coisa do Youtube, em que cada um pode ter um canal, todo mundo acabou virando um pouco produtor de conteúdo. Acho que isso ainda vai revolucionar muito o nosso meio nos próximos anos.

TJ - Sobre o momento político atual no Brasil: a imprensa tem o poder de definir que será eleito ou não?

ML - Na verdade, eu acho muito triste o que tem acontecido no Brasil já há mais de dois anos, desde que tivemos o impeachment de uma presidente honesta, que não tinha cometido crime nenhum, mas foi derrubada por uma jogada jurídica da Justiça com o Congresso, ante a grande mídia. Acho que, apesar da mídia ter se colocado muito no papel de intervir nesse processo eleitoral, eu não sei se ela consegue o resultado que imaginava. Isso porque a população já não se sente tão influenciada por tudo aquilo que tem sido veiculado. É óbvio que ela influência. Na medida que um cara foi preso, condenado em segunda instância, sem ter todo os recursos esgotados, sem prova cabal de nada e ele foi preso, vemos que houve uma participação importante da mídia nesse processo, que coloca aí uma série de problemas. Seja quem for o presidente que for eleito agora, vai ser muito difícil governar nos próximos quatro anos. Primeiro porque vai pegar um país arrasado e segundo porque, se o Congresso não estiver disposto a fazer as mudanças que o novo presidente acredita que tem que ser feitas, ele não vai conseguir governar. Hoje o Congresso é mais importante do que o próprio presidente. Mas vamos ver o que vai dar.

Recomendados para você