Ela se tornou doadora do Banco de Leite depois de quase desistir de amamentar

Ela se tornou doadora do Banco de Leite depois de quase desistir de amamentar

Sabe a amamentação feliz que vemos nos comerciais? Mãe sorrindo, se conectando com o bebê através do olhar, mostrando que tudo acontece de forma muito natural? Era assim que Ariane Smaniotto de Moraes, Arquiteta e Urbanista, imaginava. Em entrevista ao Tribuna de Jundiaí para a série de matérias especiais em prol da Semana Mundial do Aleitamento Materno, ela conta que não tinha medo da amamentação antes do bebê nascer. Quando engravidou, buscou informações, leu muito e conversou com outras pessoas. Para ela, o bebê ia chegar, mamar e a família estaria completa e feliz.

Porém, não foi o que aconteceu quando nasceu Laís, sua primeira filha. Ariane relatou que a bebê nasceu de parto normal com anestesia. Após o parto, pode segurar a filha por alguns segundos apenas. Logo, foi levada à sala de pós operatório, onde permaneceu por duas horas sem qualquer contato com a filha e com o esposo, Gabriel de Moraes.

A mãe conta que as dificuldades com a amamentação já começa com a falta de incentivo dos hospitais. Além de permanecer longe da filha nas duas primeiras horas depois do parto, ao ser levada até o quarto, a enfermeira apenas apalpou os seios, verificou se estava saindo leite e perguntou se a bebê estava ‘pegando’. Ariane, como mãe de primeira viagem e com poucas informações, acreditava que estava tudo certo.

Logo nas 48 horas no hospital, Ariane já começou a se queixar das dores nos seios. Ao questionar se estava certo, recebia como resposta que a dor era normal. A médica receitou uma pomada para ajudar a cicatrizar e o marido logo foi até a farmácia comprar.

Nos primeiros dias em casa e amamentando em livre demanda, Ariane começou a enfrentar as barreiras. A pomada, receitada pela médica, acabava por deixar os seios ainda mais sensível. Quando a bebê chorava para mamar, a mãe precisava tirar toda a pomada. Com isso, a situação só foi piorando.

Uma semana depois, Ariane não conseguia mais oferecer o seio direito para Laís. Ela chegou a pedir uma bombinha emprestada para tirar o leito do peito, mas a dor era muito grande. Com o mamilo machucado, ela tentou tirar manualmente e também não obteve sucesso. Por conta disso, o leite estava empedrando, aumentando as dores.

Quando Laís chorava para mamar, Ariane chorava também ao lembrar que teria que enfrentar a dor para alimentar a filha. Ela conta que, durante um noite, o marido acordou e encontrou Ariane chorando de dor na sala enquanto dava de mamar.

Gabriel, marido de Ariane, conhecia a enfermeira obstetra Maria Manoela Duarte, que também é consultora de amamentação. Ele conversou com ela que, prontamente, se ofereceu para ajudar a família a superar esse momento.

Ariane conta que a Manu, como é carinhosamente chamada, ensinou como fazer massagem para desempedrar o leite, como ajudar o bebê na pega correta, o posicionamento mais confortável, como tirar e colocar o seio na boca do bebê e uma dica, que Ariane considerou a dica de ouro: não precisava de pomada para cicatrizar o seio. O próprio leite podia ajudar nessa tarefa.

“A questão de orientar, conversar e entender é muito importante, principalmente para a mãe de primeira viagem. Mais um pouco e eu ia desistir de amamentar, pois não aguentava mais”, conta Ariane.

Uma semana após a consultoria, a mãe de primeira viagem já conseguia tirar o leite quando enchia muito e assim, as coisas foram se ajeitando. Como tinha muito leite, ela decidiu se tornar doadora do Banco de Leite.

Quando a segunda filha do casal nasceu, tudo foi mais tranquilo. A história com Ester começou diferente no hospital. A família decidiu realizar o parto em um hospital que fosse mais empático. Ester também nasceu de parto normal, mas permaneceu no colo da mamãe nas primeiras horas, junto com o papai, durante o pós operatório. “Ela ficou todo esse período no peito, mamando. Tudo começou mais tranquilo”, conta Ariane.

Laís mamou até 1 ano e 3 meses e Ester que, atualmente, tem 1 ano e 1 mês, ainda conta com o aleitamento materno em sua alimentação. “Ela mostra sinais de independência, mas ainda mama muito bem”, conta a mãe.

“A amamentação não é algo tão esclarecido. A orientação e a preocupação no pós parto não é algo tão falado. A consultora ajudou e deu a maior atenção, coisa que nos livros você não consegue entender. É muito importante entender e ajudar uma mãe logo depois que ela tem seus filhos”, relata.

Para as mamães que estão em período de amamentação ou as mulheres que desejam se tornar mães, Ariane deixa o recado: “Às vezes, a mãe sofre sozinha achando que é uma obrigação. É preciso procurar a ajuda de alguém que entende, alguém especializado. A indústria de mamadeiras e leites industrializados domina muito. E é muito mais fácil, ao longo das dificuldades, abrir mão da amamentação, comprar o leite e acabou. É um momento conturbado e cheio de tabu, pois acham que a mãe já nasce sabendo. Receber ajuda de alguém, uma consultora de amamentação ou enfermeira especializada, é muito importante”.

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